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Agrícola
Livro do Iapar resgata história do plantio direto no Sul do Brasil
A evolução da técnica de deposição de sementes sem revolvimento do solo é tema do livro “Plantio direto no Sul do Brasil”, que o Instituto Agronômico do Paraná (Iapar) lança em parceria com a FAO, entidade das Nações Unidas para agricultura e alimentação. A obra, de autoria dos pesquisadores Augusto Guilherme de Araújo, Ruy Casão Junior e Rafael Fuentes Llanillo, enfoca as dificuldades iniciais na área de mecanização agrícola e os avanços tecnológicos – particularmente no desenvolvimento de semeadoras – que possibilitaram dispensar o uso de arado e grade niveladora na implantação das lavouras de grãos no país.
De acordo com o pesquisador Augusto Guilherme de Araújo, a publicação que o Iapar está lançando surgiu por demanda da FAO, no âmbito de um projeto para desenvolver a agricultura conservacionista no Quênia e na Tanzânia (África). Ele explica que o organismo internacional propôs fazer um mapeamento da trajetória e as dificuldades no desenvolvimento do plantio direto no Sul do Brasil, levantando informações que pudessem subsidiar e tornar mais ágeis as ações nos países do Leste Africano. “Não foi pretensão resgatar a totalidade dos acontecimentos, mas compreender o processo evolutivo do sistema de plantio direto e das máquinas específicas para a atividade”, esclarece.
Para fazer o resgate histórico, os autores entrevistaram 66 protagonistas da implantação e desenvolvimento do plantio direto no Sul do Brasil. Foram ouvidos pesquisadores, técnicos, produtores e representantes de indústrias e empresas revendedoras de máquinas agrícolas. O texto está organizado em ordem cronológica e destaca os fatores que, na opinião dos entrevistados, foram determinantes para a evolução e consolidação do sistema em cada fase histórica.
Plantio direto
O plantio direto deu nova perspectiva ao uso e manejo dos solos e da água. Estima-se que o sistema seja atualmente adotado em 25 milhões de hectares no Brasil. No Paraná, são aproximadamente cinco milhões de hectares – cerca de 90% da área cultivada destinada à produção de grãos no estado.
Por trás desses números há uma longa trajetória de conquistas técnicas e, principalmente, uma reviravolta conceitual, que começou a tomar forma na segunda metade dos anos 1960: a ideia de que solos tropicais devem ser protegidos das chuvas e altas temperaturas e, por isso, não podem ser submetidos ao preparo com aração e gradagem antes de fazer a semeadura.
A proposta foi recebida com ceticismo por muitos pesquisadores, técnicos e produtores daquela época, pois confrontava o modelo implantado e amplamente utilizado no Sul do Brasil pelos imigrantes europeus. Eles promoveram a abertura de áreas para produção agrícola utilizando o arado de discos e grades pesadas tracionadas por tratores, modelo tecnológico que conheciam de seus países de origem. Muitas vezes, fazia-se também o uso de queimadas para reduzir a quantidade de matéria vegetal e facilitar o trabalho das máquinas.
Não tardaram a surgir problemas ambientais decorrentes desse modelo de agricultura: o intenso revolvimento deixava o solo exposto às chuvas e reduzia a capacidade de infiltração de água, resultando em grande perda por erosão pela formação de enxurradas. Já no final dos anos 1960, tornou-se urgente encontrar uma alternativa de manejo menos prejudicial.
O plantio direto prevaleceu sobre outras tentativas que propunham menor revolvimento do solo – como o uso de escarificadores – graças à iniciativa de produtores pioneiros como Herbert Bartz, em Rolândia-PR; Manoel Henrique Pereira (Nonô) e Franke Dijkstra, em Palmeira e Carambeí, na região dos Campos Gerais do Paraná. Também data do início dos anos 1970 os primeiros estudos científicos sobre agricultura conservacionista. No início da década de 1980, o Iapar publicou a primeira obra no país contendo resultados de pesquisas sobre o tema.
Atualmente, segundo os autores do livro, o termo plantio direto ganhou abrangência e vem sendo usado como referência a qualquer prática de manejo do solo que apresente uma preocupação ligada à conservação do solo, tornando-se quase sinônimo de agricultura conservacionista no Brasil.
Serviço
Livro: “Plantio direto no Sul do Brasil: fatores que facilitaram a evolução do sistema e o desenvolvimento da mecanização conservacionista”, 77 páginas.
Autores: Ruy Casão Junior, Augusto Guilherme de Araújo e Rafael Fuentes Llanillo.
Preço: A distribuição é gratuita. Interessados pagam apenas as despesas de correio, no valor de R$ 6,00.
Aquisição: pelo site www.iapar.br ou telefone (43) 3376-2373.